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sábado, 13 de outubro de 2012

Babás pode dificultar vínculos entre crianças e pais

Quando criadas pelas babás, as crianças criam laços mais intensos com elas do que com os paisQuando criadas pelas babás, as crianças criam laços mais intensos com elas do que com os pais.


A função da babá deveria ser dar suporte aos pais nos cuidados com as crianças. Mas não são poucas as famílias que delegam as próprias responsabilidades a essas profissionais. Até mesmo nos fins de semana, em que boa parte do tempo livre deveria ser dedicada aos filhos, há pais que não abrem mão de sua presença: no parque, no shopping, na festinha de aniversário dos amigos ou outro passeio qualquer, lá está a babá dando comida à criança, levando-a ao banheiro, contando historinhas ou brincando com ela.

Contar com um auxílio para criar os filhos é um privilégio –as refeições de casais com filhos pequenos, por exemplo, podem ser bem caóticas e ter alguém por perto para ajudar é mais do que conveniente. No entanto, muitos casais têm contado com a presença das babás em tempo integral (ou quase).
Para Míriam Ribeiro de Faria Silveira, presidente do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), muitas pessoas não assumem que não gostam de dedicar cuidados aos filhos, como trocar fraldas, dar banho, alimentar e brincar. Aí inventam desculpas, como agenda cheia, cansaço e até falta de jeito, e repassam essas tarefas mesmo quando estão por perto.

"Os pais precisam entender que é por meio dessas interações que o desenvolvimento saudável acontece. Esses momentos são grandes oportunidades de trocas de amor e carinho que farão toda a diferença no futuro, inclusive na maneira de ser dos filhos na vida adulta e em como se comportarão no papel de pais", explica.

Míriam afirma que as diferentes formas de diversão são importantes. A criança deve brincar sozinha, com outras crianças, com os cuidadores (babás, avós, professores) e, principalmente, com os pais. "Brincar leva a criança a mostrar suas alegrias e dificuldades, é uma das melhores maneiras de conhecê-la", declara a pediatra.

Formação do vínculo

A interação constante das profissionais com as crianças interfere na formação do vínculo com os pais. Os laços que a criança cria com a babá serão muito mais intensos, dificultando o papel dos pais quando eles forem realmente fazer sua parte. "Por mais adequada e competente que a babá seja, a responsabilidade de cuidar e educar na maior parte do tempo deve ser dos pais. A criança espera que eles cuidem dela quando estão presentes, que brinquem, alimentem e deem banho”, diz a terapeuta familiar Roberta Palermo, autora do livro "Babá / Mãe – Perguntas e Respostas" (Mescla Editorial).


Se o cotidiano corrido não permite o tempo todo tal zelo, pelo menos aos sábados, domingos e feriados os adultos precisam dedicar maior atenção às crianças. Há o risco de os filhos se sentirem confusos e carentes, porque estranham o fato de que os pais, mesmo quando estão disponíveis para dar atenção, não o fazem.

Quem tem uma babá por perto o tempo todo acaba se acomodando. O ideal é que a babá ajude, principalmente, com as tarefas mais chatas. Ela pode encher a banheira e deixar tudo pronto para que a mãe ou o pai deem o banho. O mesmo vale para a alimentação: a profissional prepara as papinhas ou a refeição, mas os pais alimentam o filho.

Na opinião do pediatra Abelardo Bastos Pinto Jr., a babá pode ajudar em algumas circunstâncias que possam permitir também o lazer dos pais –uma festa ou um jantar em um restaurante, por exemplo. "Entretanto, delegar boa parte desse precioso tempo a elas pode provocar situações constrangedoras, como o fato de serem chamadas de mãe, pois estão desempenhando exatamente esse papel", diz o especialista, colaborador do livro "Filhos de 2 a 10 anos" (Ed. Manole), publicado como guia oficial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em 2011.

"É comum a mãe se queixar comigo que, ao buscar a criança na escola, ela corre para os braços da babá. Claro. Ela está cansada, com fome e quer brincar. Quem dá o colo, o banho? Quem alimenta? Quem brinca?", pergunta a terapeuta familiar Roberta Palermo.


Prejuízos futuros

Para o casal, ter uma pessoa que não é da família o tempo todo com os dois não só tira a privacidade como interfere na dinâmica familiar. "Na presença de um terceiro, nem sempre somos autênticos o suficiente e as crianças precisam conhecer seus pais", diz Míriam Silveira, da SPSP. É preciso ter em mente, ainda, que a babá, como qualquer profissional, pode um dia ter que se ausentar ou se demitir. Nos casos em que os pais delegaram a ela todos os cuidados, a criança pode sofrer muito com a falta dela e apresentar problemas emocionais como consequência.

"Os pais podem descobrir nessas ocasiões que seus filhos são verdadeiros desconhecidos e que perderam algo, muitas vezes, irrecuperável", diz Míriam. “O rompimento pode até favorecer aqueles pais que abriram mão do seu papel. Os que se mostrarem realmente interessados na formação de seus filhos serão capazes de compensar esse acontecimento", argumenta Abelardo Bastos Pinto Jr.
Quando a família troca de babá constantemente, a criança pode sentir insegurança, carência, abandono e apresentar baixo rendimento escolar. Na ausência de uma babá que realizava tudo, a criança sente uma perda muito grande. Por isso é fundamental que ela se despeça da cuidadora e entenda que não a verá mais. É muito inadequado mentir para a criança, dizer que a babá está de férias, por exemplo. Uma nova babá virá, entrará de férias e a criança achará que, mais uma vez, não vai voltar.
No futuro, os pais podem se ressentir ou se arrepender de terem participado pouco da infância de seus filhos. “Uma frase muito comum é ‘não vi meu filho crescer’. Se esse sentimento já aparece nos pais que participam de todas as tarefas, imagine nos ausentes. Dizem para si mesmos que tiveram que sair, que não deram conta, precisaram trabalhar, mas, muitas vezes, se acomodaram mesmo. Por maior que seja o cansaço e o estresse, tem de chegar em casa e cuidar de seus filhos, sim", afirma a terapeuta familiar Roberta Palermo.




Ter filhos é alternar o tempo todo sentimentos contraditórios, como amor incondicional e uma culpa atroz por achar, 24 horas por dia, que nunca está fazendo o bastante por eles. Alguns pais, em busca de objetivos que devem beneficiar as crianças –uma viagem de férias ou uma boa escola, por exemplo–, resolvem cortar supérfluos para economizar. Outros, diante de fatos inesperados como a perda de um emprego, se veem forçados a privar as crianças de brinquedos novos e passeios, até que as coisas se ajeitem.

Se tais circunstâncias são difíceis de aceitar até para um adulto, como mostrar a realidade à criança? Para a psicóloga Marilia Castello Branco, independentemente do caso, não dar tudo é uma das coisas mais importantes que os pais podem fazer por seus filhos. "Limitações são parte da existência e ajudam a amadurecer. Se uma criança tem todas as suas necessidades satisfeitas imediatamente, torna-se menos preparada para lidar com as frustrações que, inevitavelmente, a vida proporcionará", explica.

Para a psicóloga e pedagoga Elizabeth Monteiro, autora de "A Culpa É da Mãe" (Summus Editorial), é importante falar com os filhos sobre a situação financeira com honestidade. "Não tenha vergonha disso e nem o ensine a sentir vergonha de si mesmo. Mostre o quanto é duro conquistar as coisas e que não é possível levar a vida que muita gente leva", diz Monteiro. Segundo a psicóloga, os pais devem explicar aos filhos que, quando crescerem, poderão trabalhar e ter as coisas que, hoje, a família não pode ter. "É uma maneira de ensiná-lo a fazer projetos de vida”, explica a especialista.

Segundo Elizabeth Monteiro, a viagem, o intercâmbio, os brinquedos desejados e as festas são coisas a se conquistar –não julgue a si mesmo se, no momento, você não pode proporcioná-las. "Não minta, não engane nem prometa coisas que não estão ao seu alcance. Quando os pais estão seguros do que dizem e de como agem, a criança costuma aceitar com naturalidade”, diz a psicóloga. O mesmo vale para os planos: é fundamental compartilhá-los com os filhos, porque, para as crianças, a noção de futuro é complexa. Ao se sentir parte de um projeto, ela terá mais paciência para esperar por aquilo que quer. Ensiná-la a guardar moedas em um cofrinho é um bom começo.

Na opinião da psicóloga Maria Teresa Reginato, é comum, em nossa cultura, projetar nos filhos a realização de nossos desejos frustrados. Se a pessoa passou por dificuldades materiais, quer dar uma vida mais fácil para o filho; se teve pais excessivamente severos, será mais flexível com o filho, e assim por diante. "O equívoco está nessa projeção, porque a pessoa não está olhando para o filho, mas para ela mesma e seus desejos e necessidades frustrados", diz. Quanto às frustrações do adulto, Reginato orienta que ele as realize, como, por exemplo, sendo menos rígido com si mesmo apesar da educação severa que teve; ou menos complacente, caso tenha sido mimado.

Para a psicóloga Lizandra Arita, ter o desejo de oferecer o melhor ao filho é um posicionamento natural da parte de cada pai e mãe. O risco surge quando a dedicação ao filho rompe a linha da normalidade, ou seja, os pais se esforçam para corresponder a todos os seus desejos, sem impor condições ou limites para isso. "É muito importante que os pais tenham em mente que nem tudo o que o filho quer é o que ele realmente precisa. Permitir que a ansiedade e o sofrimento dominem seus sentimentos por causa de um pedido não correspondido é algo muito perigoso e deve ser observado com muita atenção", declara.

Tempo escasso

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    Trabalho impossibilita amamentação pelo tempo ideal e mães sofrem com pressão e culpa.

Muitos pais se martirizam por trabalhar demais e passar pouco tempo com os filhos. Para Ana Lúcia Gomes Castello, consultora de psicologia do Hospital Infantil Sabará, de São Paulo, a premissa de que qualidade é mais importante do que quantidade é, de fato, verdadeira. "Quando os pais conseguem ter qualidade na relação com os filhos, eles alimentam as necessidades deles e são mais felizes", diz. Ela conta que não são poucos os casos de mães que não trabalham e que acabam sufocando os filhos com cuidados e controle, prejudicando a relação. Muitas querem fazer tudo o que a criança deseja acabam prejudicando seu desenvolvimento emocional.
Para Paula Kioroglo, psicóloga do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, a qualidade do afeto é, sim, mais importante que a quantidade de tempo, mas isso não significa que pouco tempo pode ser compensado com muito afeto. "Alguns minutos de muito carinho não são suficientes. É necessário um período que permita que a criança conviva com os pais, receba atenção e limites e perceba amor nessas atitudes".
A também psicóloga Lizandra Arita diz que é importante observar que "qualidade de tempo" não significa apenas sentar ao lado do filho enquanto ele assiste a um filme e você lê uma revista. Também não significa levá-lo para a escola e, enquanto dirige, mantém a cabeça em diversas outras coisas, menos no passageiro em questão. "Estar junto fisicamente não representa estar junto de verdade. Por não saber distinguir uma coisa da outra, muitos pais acham que o simples fato de estar debaixo do mesmo teto é suficiente”, acusa. 

Dicas para enfrentar situações cruciais sem culpa

Não comprar presentes fora de datas comemorativas
Adiar a realização de um desejo e esperar uma data para ganhar o que se quer ensina a criança a valorizar conquistas. Se o fator financeiro não for o impedimento e você quer recompensar a criança por uma boa nota na escola, por exemplo, a sugestão da psicóloga Ana Lúcia Gomes Castello, do Hospital Infantil Sabará, é investir em itens como livros, quebra-cabeças e jogos de memória, que estimulam o desenvolvimento cognitivo da criança. Outra ideia é ensinar o filho a doar um brinquedo velho para cada item novo que recebe.

Não ter pique para brincar quando a criança está a mil
Adultos não precisam participar de todas as brincadeiras da criança. Ela precisa ser capaz de brincar sozinha e ter espaço com outras crianças para realizar brincadeiras mais ativas e energéticas. O tempo com os pais pode ser usado para outro tipo de atividades, que deem prazer a ambos, como leitura, contar histórias, jogos, desenhos, conversas. "Se estiver muito cansado, encare esse momento como uma ginástica; no fim, em geral, ficamos mais energizados, porque uma parte bastante significativa do cansaço é tensão. Brincar pode ajudar a relaxar", diz a psicóloga Maria Teresa Reginato. "Você vai dormir melhor e sem culpa; e a criança, menos carente, vai exigir menos."

Não ter condições de fazer uma viagem bacana todo ano
Primeiro avalie: essa é uma necessidade real da criança ou sua? O que é uma viagem bacana para você? Você já experimentou fazer um piquenique diferente em um parque, em uma tarde de sábado? Já pediu para seus filhos lavarem o carro ou até um tapete da casa e, no final, se deliciaram com um banho de mangueira? Brincou de esconde-esconde com o seu filho na garagem do seu prédio ou na rua da sua casa? "Faça isso e depois reflita se o que é mais importante é uma viagem ou os momentos descontraídos em família", desafia a psicóloga Lizandra Arita. E tudo isso sem se estressar com a fatura do cartão de crédito.

Ficar pouco tempo com as crianças durante a semana por causa do trabalho
É importante deixar claro para o filho que os pais não podem estar disponíveis o tempo todo, que o trabalho é importante e que a criança também tem seus momentos longe de casa, na escola. No tempo livre é preciso dar prioridade a bons momentos com as crianças. Mas, se a sua rotina de trabalho proporciona muito pouco espaço para estar com os filhos, talvez seja interessante rever isso, pensar no que pode ser mudado. Para Maria Teresa Reginato, estar fora o dia todo não significa estar ausente. "Telefonar para saber como está o dia da criança é uma maneira de mostrar que ela não sai de seu pensamento. Seu filho vai sentir seu afeto, principalmente se você ligar porque queria mesmo estar com ele, e não por culpa."

Escolher uma escola que não é a ideal, no seu ponto de vista
Em alguns casos não é o fator financeiro que conta. Entre uma escola ideal que fica longe, e uma boa e mais próxima de casa, a segunda tende a ser a escolhida. "A melhor escola é aquela que cabe no seu bolso, que está perto de sua casa, que atende às suas necessidades e às necessidades do seu filho. Às vezes, são necessárias escolas diferentes para cada filho, pois eles são diferentes e não se deve tratá-los da mesma forma", diz a psicóloga Elizabeth Monteiro. E nem sempre a melhor escola é o mais importante para uma formação. Os pais podem compensar uma escola não tão boa com atividades culturais em família: passeios, viagens, visitas a museus, leituras e filmes.

Ouvir a criança comentar que o tênis ou o brinquedo do amigo é melhor
Segundo Maria Teresa Reginato, as crianças absorvem tudo o que veem. "Assim, não são as crianças que comparam. Nós, adultos, é que comparamos, eles apenas imitam. Precisamos ser capazes de dizer: ‘aqui em casa nós achamos importante isso’ ou ‘nós decidimos que tem mais valor aquilo’. Sempre é bom ter em mente que a criança chega ao mundo sem saber se nasceu em um lar rico ou pobre. Ela aprende a querer o que os pais querem", declara.

Trabalho impossibilita amamentação pelo tempo ideal e mães sofrem com pressão e culpa

O dogma da amamentação esteja criando um sentimento de culpa injusto e graves dificuldades para um número crescente de novas mães, muitas das quais não podem arcar, profissional ou financeiramente, com as licenças-maternidade prolongadas necessárias para amamentar no peito seus filhos pelo período atualmente recomendado.
Há 43 anos, quando meus gêmeos nasceram, a pressão para amamentar exclusivamente no peito por seis meses não era tão grande quanto é hoje. Todavia, eu senti que os decepcionei –e a mim mesma– porque isso foi impossível. Eu esperava alimentá-los apenas com leite materno pelos seis meses de licença maternidade concedidos pelo meu emprego. Mas a natureza tinha um plano diferente.

Aos sete meses de gravidez, eu soube que teria gêmeos e meu médico ordenou que eu parasse de trabalhar, para evitar um parto precoce. Os meninos nasceram por cesariana, cada um com três quilos. Mas eu tive uma infecção perigosa após a cirurgia. Sustentada por soro por oito dias, eu fui isolada dos bebês; meu leite era extraído e eles mamavam fórmula infantil.

Quando finalmente deixamos o hospital, cada menino tomava 100 gramas de fórmula a cada quatro horas, e eu produzia menos da metade disso em leite materno. Meus médicos davam orientações contraditórias. O obstetra dizia para eu amamentar que, assim, o leite viria. Ele afirmava que, se eu desse a mamadeira, eles deixariam de mamar no peito. O pediatra mandava abandonar a amamentação no peito e dar fórmula, ou eles ficariam com fome e iriam chorar a cada duas horas. Pior que isso, iriam perder peso.

Depois de chorar muito, decidi mesclar os dois conselhos: primeiro amamentava os bebês no peito, e completava cada amamentação com fórmula. Os meninos foram perdendo gradualmente a dependência da mamadeira. Mas quando completaram quatro meses, minha licença acabou e tive que voltar ao trabalho, a uma hora de distância de casa, em um escritório sem creche local, nem um lugar onde pudesse tirar leite.

Uma barreira intransponível
Muito mais mulheres agora trabalham em tempo integral, a maioria em lugares que não podem acomodar uma mãe amamentando no peito. Poucas podem arcar com uma licença maternidade prolongada sem remuneração. Como Alissa Quart nota no artigo “A Guerra do Leite”, publicado recentemente no “New York Times”, muitas novas mães consideram difícil, se não impossível, alimentar seus bebês apenas com leite materno por seis meses.

As autoridades de saúde comparam o fracasso de amamentar no peito ao risco de fumar durante a gravidez, o que aumenta a angústia e a culpa dessas mulheres.

Mas como mostrou um recente estudo na Escócia, a diferença entre o que é ideal e o que é real é impossível de ser superada por muitas famílias. Os autores, que realizaram 220 entrevistas pessoais, a maioria com mulheres grávidas, novas mães e seus parceiros, concluíram que metas mais realistas e viáveis devem ser estabelecidas, particularmente em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, que até o momento não conseguiram atingir as metas para aleitamento materno.

Hanna Rosin, mãe de três bebês alimentados com leite materno, escreveu no “The Atlantic”, um jornal norte-americano, em 2009, que o aleitamento materno envolve “uma dedicação séria de tempo que basicamente te proíbe de trabalhar. Quando as pessoas dizem que a amamentação no peito é 'gratuita’, ela é apenas gratuita se o tempo da mulher não valer nada”.

Os pesquisadores escoceses, cujo estudo foi publicado em março na revista “BMJ Open”, uma publicação online especializada em pesquisa médica, concluíram que há um “choque entre o idealismo aberto ou secreto da amamentação do bebê e a realidade experimentada”. "Algumas famílias", eles apontaram, “percebem que a única solução que devolverá o bem-estar aos pais e ao bebê é deixar de amamentar ou introduzir alimentação sólida”.

Até mesmo as mães que planejavam se dedicar à amamentação no peito frequentemente têm dificuldades com o tempo necessário para voltarem às suas vidas pré-gravidez, incluindo sono, exercício, amizades, vida conjugal, atenção aos outros filhos e até mesmo o trabalho doméstico.

Pode haver pouco benefício no aleitamento materno se ele resultar em mães aflitas ou discórdia conjugal ou familiar. Como uma mulher no estudo escocês disse, “tudo parece ser, ‘não faça nada que interfira na amamentação no peito’. Mas isso não se encaixa no restante de sua vida, e acho que as pessoas simplesmente desistem porque é difícil demais”.

Em alguns casos de amamentação exclusiva no peito, o parceiro da mulher e outros filhos se sentem excluídos dos cuidados com o bebê e do laço que se forma ao alimentá-lo. Uma mulher no estudo disse sobre seu parceiro, “eu acho que ele está realmente contente de poder dar a mamadeira ao bebê; é o momento deles sentarem juntos e relaxar”.

Os autores concluíram que “seis meses de amamentação exclusiva no peito é considerado irrealista e inviável para muitas famílias, e promover isso é visto como conduzir os pais a um fracasso”.

Eles recomendaram que, em vez de ditar como os bebês são alimentados, os profissionais de saúde deveriam discutir abertamente com as famílias e definir um determinado regime de alimentação que se encaixe na vida familiar.

Evidência incerta
Algumas mães no estudo escocês se ressentiam da “propaganda” promovendo o aleitamento materno, chamando a mensagem de que “o peito é melhor” excessiva e questionando a evidência de que o aleitamento materno exclusivo por seis meses reduz o risco do bebê de sofrer com alergias, asma, eczema, infecções de ouvido, obesidade, diabete, doença cardíaca, morte súbita infantil e inteligência reduzida, assim como protege as mães de câncer de mama.

Há evidências apoiando essas afirmações, mas nenhum teste controlado –o padrão ouro da pesquisa científica– provou que os bebês alimentados com leite materno se saem melhor, ao menos nos países industrializados.

Os bebês que são alimentados exclusivamente no peito por seis meses geralmente vêm de famílias que divergem de muitas formas daquelas desmamadas cedo ou alimentadas com fórmula desde o inicio. (É claro, bebês alimentados exclusivamente com leite materno se saem melhor em áreas menos desenvolvidas, onde a fórmula pode ser preparada com água contaminada ou a pobreza leva as mães a serem econômicas em seu uso.)

Quanto aos anticorpos que protegem os bebês no início da vida, a maioria é adquirida por meio da placenta durante a gravidez. As principais exceções são os anticorpos contra infecções gastrointestinais (vômitos e diarreia); esses anticorpos são transferidos para o sistema digestivo do bebê por meio do leite materno, mas não pela fórmula.

Com base em sua revisão das evidências médicas, Rosin, em seu artigo no “The Atlantic”, escreve, “isso mostra que o aleitamento materno provavelmente seja, talvez, um pouco melhor, mas está longe da enxurrada de evidência” que é promovida na literatura popular.

“No geral”, ela conclui, “o peito provavelmente é melhor, mas não tão melhor a ponto de a fórmula merecer o rótulo de ‘ameaça à saúde pública’, juntamente com o fumo”.

Talvez seja hora de mensagens mais realistas e menos polarizantes, sobre o aleitamento materno.

Todo brinquedo pode ser educativo; veja os mais adequados para crianças de até nove anos

Bloquinhos de madeira, fantoches de pano, peças com formato de letras. Afinal, brinquedos vendidos como educativos educam de fato? Para especialistas ouvidos pelo UOL Gravidez e Filhos, sim, mas com uma ressalva significativa: qualquer brinquedo pode ser educativo –seja ele projetado com essa intenção ou não.

"O que ficou conceituado no mercado como educativo é o brinquedo com objetivo de desenvolver algumas habilidades ou conhecimentos específicos, o que não quer dizer que outros brinquedos não façam a mesma coisa", afirma Maria Ângela Barbato, do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.
Mesmo o mais banal dos bonecos pode ajudar a desenvolver as mesmas capacidades do que um brinquedo com rótulo de educativo. "Quando uma criança tenta abotoar a blusa ou calçar o sapato em uma boneca, por exemplo, ela trabalha a coordenação motora fina. Fora isso, quando combina suas roupinhas de várias maneiras, intuitivamente, faz análise combinatória. Conteúdo que o adolescente só vai estudar no ensino médio", diz Maria Ângela.

AJUDE SEU FILHO A BRINCAR MELHOR

Quem escolhe é a criança
Entenda o que estimula seu filho e esqueça a vontade de comprar brinquedos que você sempre quis.

Uso variadoUm brinquedo não precisa ter uma função específica, por isso não se decepcione se seu filho começar a empilhar aquele quebra-cabeça  incrível que você comprou.

Opções
Não ofereça muitos brinquedos ao mesmo tempo. Segundo Quézia Bombonatto, presidente da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), a criança pode enjoar dos objetos antes de buscar novas formas de explorá-los.

Novas aquisições
“É importante a família se questionar se está comprando novos brinquedos para desenvolver as habilidades da criança ou incentivando o comprar por comprar”, fala Quézia.

Diversão eletrônica
Para a especialista, o problema não é a criança brincar com o videogame, mas “apenas” com ele.
Já um brinquedo educativo com possibilidades de manipulação muito definidas pode não interessar à criança. "Quando muito diretivo, fechado, ele engessa a criatividade, que é uma capacidade ligada à liberdade de explorar, sem conceito de certo e de errado. A brincadeira mais valiosa é a livre, a espontânea", diz Vera Barros de Oliveira, presidente da ABBri (Associação Brasileira de Brinquedotecas) e uma das organizadoras do livro "Brincar É Saúde: O Lúdico como Estratégia Preventiva" (Editora WAK) .
O importante, portanto, é brincar. "A brincadeira é indispensável para que a criança se desenvolva de forma afetivo-emocional, social, cognitiva e motora. É fundamental para que ela se torne um adulto capaz de amar e de trabalhar", diz Vera.

Nada de aula

Os brinquedos desenvolvidos para facilitar o ensino surgiram na década de 1980 a partir do pressuposto de que era possível ensinar brincando. Princípio com o qual a psicóloga Paula Birchal, professora da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais, não concorda. "Para mim, é contraditório. Um objeto vira brinquedo a partir da função que a criança dá a ele. Quando passa a ser utilizado intencionalmente como meio de aprendizagem, perde a função de brincar pelo prazer de brincar", afirma. Na visão da especialista, o brinquedo se torna apenas uma metodologia de ensino um pouco mais palatável.

O desenvolvimento da criança e de seus brinquedos

Movimentos e sentidosaté 18 meses
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No início da vida, o maior brinquedo da criança é seu corpo. Em seu primeiro mês, a percepção visual do bebê só é boa de perto e ele pouco faz além do movimento de sucção. A partir do terceiro mês, começa a sugar os próprios dedos, a rir, a olhar as próprias mãos e a seguir as pessoas com os olhos. Move a cabeça, balança os braços, chuta o ar com o movimento que usará para, no futuro, andar, mexe o tronco, vira o corpo. Nessa fase, a criança pode se interessar por móbiles no berço.

Por volta do quinto mês, ela começa a agir diretamente sobre os objetos. Conforme desenvolver o movimento de pegar e largar, o bebê vai se divertir com objetos como o chocalho.
Mas a criança não quer apenas se movimentar. Quer explorar o mundo com todos os sentidos. Gosta de sentir a textura de bonecos de tecido e de pelúcia, colocar mordedores na boca –a partir do 10º mês, o bebê vai adorar morder coisas–, apertar brinquedos de guizo e demais objetos que produzam sons, desde que não sejam estridentes.
Quando já conseguir se sentar, vai ser a vez de brincar com objetos de encaixe simples e argolas empilháveis. E não demorará para que comece a engatinhar e a ensaiar os primeiros passos. Nesse momento, a criança se diverte com brinquedos que possa empurrar e puxar –como carrinho de boneca e andador–, além de bolas, túneis de tecido e objetos que possa levar ou jogar de um canto para o outro.
Espaço e imaginaçãode 18 a 36 meses
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Agora que a criança já consegue andar, ela quer explorar o espaço. Por isso, passa a se interessar por triciclos ou carrinhos grandes de puxar, bolas de borracha e brinquedos infláveis.
Uma brincadeira nova entra em cena: o faz-de- conta. Seja menino ou menina, a criança gosta de imitar o que vê: brinca de casinha com réplicas de móveis, utensílios domésticos, fantasias e bonecos.

A coordenação motora também está mais afinada após o 18º mês de vida. Por isso, a criança pode usar brinquedos de montar e de desmontar mais complexos, como blocos de tamanhos e formas diferentes e quebra-cabeças simples. Instrumentos musicais também se tornam interessantes.
Fantasiade 3 a 6 anos
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Agora, o faz-de-conta ganha novas proporções. Não se trata mais de imitar, mas de criar. Surgem o teatrinho e a brincadeira com profissões. Aqui, o brinquedo deve ajudar a explorar essa criatividade, como cidadezinhas, fortes, circos, fazendas, fantoches e bonecos. Para essa faixa etária, bloquinhos de construção, que possa montar e desmontar, são bastante interessantes.
“Muitos pais compram brinquedos caros que a criança não pode estragar”, diz Quézia Bombonatto, presidente da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia). A especialista fala, no entanto, que não há mal no ato se ela agir por curiosidade. “Já se destruir o brinquedo simplesmente por destruir, os pais devem questionar por que ela faz isso.”
Nessa época, a criança também entra na fase de pré-alfabetização. Com carimbos, giz de cera e lápis grossos, começa a trazer suas fantasias para o papel. Também se interessa por jogos de tabuleiro e de memória, quebra-cabeças simples de pinos, dominós e livrinhos.
O gosto pelo movimento permanece. O brincar ao ar livre pode ser explorado com equipamentos de ginástica, triciclo e bicicleta com rodinhas
Competição e escolade 6 a 9 anos
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Agora vem a fase dos jogos para valer. A criança já é capaz de lidar com regras e por isso está apta a praticar esportes como futsal e tênis de mesa, a jogar bolinhas de gude, jogos de tabuleiro. Bicicleta, patins, patinete, pernas-de-pau e outros brinquedos do gênero servem agora não apenas para explorar o movimento, mas também para estabelecer competições.
Conforme a criança entra em fase escolar, surge o grande filão de jogos considerados educativos, direcionados a conceitos específicos, como os que permitem formar palavras e manejar dinheiro.

Fonte: Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos)


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