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domingo, 22 de janeiro de 2012

Azeite – a gordura do bem



A participação do azeite de oliva no cardápio da família brasileira ainda se resume à condição de tempero das saladas ou surge para realçar o sabor de massas. Nas mesas dos melhores restaurantes o produto já foi alçado à condição de ingrediente indispensável. Todo fundo de frigideira é regado com azeite de oliva e as carnes grelhadas, antes de dourar ao fogo, são mergulhadas numa mistura de azeite.

A Associação Dietética Americana apresenta evidências de que as dietas ricas em gorduras mono-insaturadas, predominantes na composição do azeite, estão diretamente associadas à redução do risco de desenvolvimento de doenças degenerativas. Entre elas estão os problemas coronarianos derivados do entupimento das artérias que irrigam o coração, mais comuns nos países ocidentais e partes da Europa que seguem dieta semelhante à dos norte-americanos. Se nos óleos comuns a fração dessa gordura chega a 50%, no azeite de oliva ultrapassa 73%.
O caminho da saúde, não exige o corte de toda a gordura da alimentação, mas que a maior parte seja fornecida por fontes vegetais e, de preferência, com predominância do azeite.
O motivo da preferência está na composição do produto, que contém substâncias capazes de melhorar a relação entre as frações de colesterol do organismo. Elas reduzem o chamado colesterol ruim (LDL, do inglês Low Density Lipoprotein) e aumentam o bom colesterol, o HDL (High Density Lipoprotein).
As gorduras saturadas são sólidas à temperatura ambiente e provem de fontes animais (manteiga, creme de leite, banha de porco e gordura contida nas carnes), com exceção apenas para o óleo de coco (com 92% de gordura saturada na composição) e palmeira.
São também as mais daninhas, pois favorecem o aumento da fração LDL do colesterol, que tende a se acumular nas paredes dos vasos e artérias, formando as placas de ateroma, geradas pela deposição de gordura e cálcio, que diminuem o calibre das artérias. Já o colesterol HDL limpa artérias favorecendo a eliminação da parcela nociva.
As gorduras insaturadas são originárias de fontes vegetais e líquidas à temperatura ambiente. Subdividem-se em poli-insaturadas (milho, soja, amendoim, girassol) e mono-insaturadas (azeite e canola).
Os poli-insaturados reduzem o colesterol bom e o ruim ao mesmo tempo. Já os mono-insaturados atacam só o colesterol ruim, elevando a presença do outro.
Os benefícios do azeite também não são imediatos: podem vir a médio e longo prazos e variam de acordo com o metabolismo. Alguns estudos mostram, por exemplo, que sinais de melhora da imunidade e do colesterol podem começar a surgir em 30 dias. Outras pesquisas indicam que a proteção do azeite de oliva reduz a incidência de artrite reumatóide após 27 semanas seguindo com uma alimentação baseada em mono-insaturados. Não custa lembrar: azeite ajuda a diminuir o número de casos, mas não cura artrite reumatóide.
O acréscimo de azeite significa também controlar a presença das outras fontes de gordura, como leites e queijos. Não custa lembrar que esses produtos não impedem a ação do óleo de oliva, mas aumentam o colesterol ruim. Seguir uma dieta pobre em gorduras originárias de fontes animais, moderar nos óleos e enriquecer com azeite aumenta a expectativa de vida.
Quanto mais gorduras ingerir, mais testosterona o teu corpo produz. A melhor gordura que funciona como fonte para a produção de testosterona, é o azeite. Foi demonstrado que o azeite faz com que seja absorvido mais colesterol para a produção de testosterona. 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Documento histórico sobre a infalibilidade do papa


Josip Jurai Strossmayer (1815-1905), prelado croata e bispo de Djacovo (1849), um dos grandes estimuladores do movimento Iugoslavo, fundador em 1874 da Universidade de Zagreb, pronunciou durante o célebre Concílio do Vaticano, em 1870, um discurso opondo-se corajosamente à infalibilidade do papa, que detalhamos aqui.
Dentro da própria religião católica, um bispo se levanta contra a Infalibilidade do Papa que existe até os dias de hoje.
Vale a pena ser lido, pois dele podemos extrair valiosas referências de difícil acesso, demonstrando que Deus tem aberto os olhos de muitas pessoas que estão nos altos cargos de Roma.

Veneráveis padres e irmãos: 
Não sem temor, porém com uma consciência livre e tranqüila, ante Deus que nos julga, tomo a palavra nesta augusta assembléia. 
Prestei toda a minha atenção aos discursos que se pronunciaram nesta sala, e anseio por um raio de luz que, do alto, ilumine a minha inteligência e me permita votar os cânones deste concílio Ecumênico com perfeito conhecimento de causa. 
Compenetrado de minha responsabilidade, pela qual Deus me pedirá contas, estudei com a mais escrupulosa atenção os escritos do Antigo e do Novo Testamento, e interroguei esses veneráveis documentos da Verdade sobre esta magna questão: se o pontífice que preside aqui é verdadeiramente o sucessor de São Pedro, vigário do Cristo e infalível doutor da igreja. 

Transportei-me aos tempos em que não existia o ultramontanismo e o galicanismo, em que a igreja tinha por doutores São Paulo, São Pedro, São Tiago e São João, aos quais não se pode negar a autoridade divina sem por em dúvida o que a santa Bíblia nos ensina, santa Bíblia que o concílio de Trento proclamou como a Regra de Fé e da Moral. Abri essas sagradas páginas e sou obrigado a dizer-vos: nada encontrei que sancione, próxima ou remotamente, a opinião dos ultramontanos! E maior é a minha surpresa quando, naqueles tempos apostólicos, nada há que fale de papa sucessor de São Pedro e vigário de Jesus Cristo! 
Vós, monsenhor Manning, direis que blasfemo; vós, monsenhor Pio, direis que estou demente! Não, monsenhores; não blasfemo, nem perdi o juízo! Tendo lido todo o Novo Testamento, declaro, ante Deus e com a mão sobre o crucifixo, que nenhum vestígio encontrei do papado.
 
Não me recuseis a vossa atenção, meus veneráveis irmãos! Com os vossos murmúrios e interrupções justificais os que dizem, como o padre Jacinto, que este concílio não é livre; se assim for, tendes em vista que esta augusta assembléia, que prende a atenção de todo o mundo, cairá no mais terrível descrédito. 
Agradeço a S. Ex., o monsenhor Dupanloup, o sinal de aprovação que me faz com a cabeça; isso me alenta e anima a prosseguir. 

Lendo, pois, os santos livros, não encontrei neles um só capítulo, um só versículo que dê a São Pedro a chefia sobre os apóstolos. Não só o Cristo nada disse sobre esse ponto, como, ao contrário, prometeu tronos a todos os apóstolos (Mt 19:28), sem dizer que o de Pedro seria mais elevado que o dos outros! Que diremos do seu silêncio? A lógica nos ensina a concluir que o Cristo nunca pensou em elevar Pedro à chefia do Colégio Apostólico. 
Quando Cristo enviou os seus discípulos a conquistar o mundo, a todos – igualmente – deu o poder de ligar e desligar, a todos – igualmente – fez a promessa do Espírito Santo. 
Dizem as Santas Escrituras que até proibiu a Pedro e a seus colegas de reinar ou exercer senhorio (Lc 22:25-26).
 
Se Pedro fosse eleito papa, Jesus não diria isso, porque, segundo a nossa tradição, o papado tem uma espada em cada mão, simbolizando os poderes espiritual e temporal. Ainda mais: se Pedro fosse papa ou chefe dos apóstolos, permitiria que esses seus subordinados o enviassem, com João, a Samaria, para anunciar o evangelho do Filho de Deus? (At 13:14). 
Que direis vós, veneráveis irmãos, se nos permitíssemos, agora mesmo, mandar Sua Santidade Pio IX, que aqui preside, e Sua Eminência, Monsenhor Plantier, ao Patriarca de Constantinopla, para convence-lo de que deve acabar com o cisma do Oriente? O símile é perfeito, haveis de concordar.
 
Mas temos coisa melhor: Reuniu-se em Jerusalém um concílio ecumênico para decidir questões que dividiam os fiéis. Quem devia convoca-lo? Sem dúvida Pedro, se fosse papa. Quem devia presidi-lo? Por certo que Pedro. Quem devia formular e promulgar os cânones? Ainda Pedro, não é verdade? Pois bem: nada disso sucedeu! Pedro assistiu ao concílio com os demais apóstolos, sob a direção de São Tiago! (At 15). 
Assim, parece-me que o filho de Jonas não era o primeiro, como sustentais. 
Encarando agora por outro lado, temos: enquanto ensinamos que a igreja está edificada sobre Pedro, São Paulo (cuja autoridade devemos todos acatar) diz-nos que ela está edificada sobre o fundamento da fé dos apóstolos e profetas, sendo Jesus Cristo a principal pedra do ângulo (Ef 2:20). 

Esse mesmo Paulo, ao enumerar os ofícios da igreja, menciona apóstolos, profetas, evangelistas e pastores; e será crível que o grande apóstolo dos gentios se esquecesse do papado, se o papado existisse? Esse olvido me parece tão impossível como o de um historiador deste concílio que não fizesse menção de Sua Santidade Pio IX. (Apartes: Silêncio, herege! Silêncio!) 
Acalmai-vos, veneráveis irmãos, porque ainda não concluí. Impedindo-me de prosseguir, provareis ao mundo que sabeis ser injustos, tapando a boca do mais pequeno membro desta assembléia. Continuarei: 
O apóstolo Paulo não faz menção, em nenhuma das suas epístolas às diferentes igrejas, da primazia de Pedro; se essa existisse e se ele fosse infalível como quereis, poderia Paulo deixar de menciona-la, em longa epístola sobre tão importante ponto? 

Concordai comigo: a igreja nunca foi mais bela, mais pura e mais santa que naqueles tempos em que não tinha papa. (Apartes: Não é exato; não é exato!) 
Por que negais, Monsenhor de Laval? Se algum de vós outros, meus veneráveis irmãos, se atreve a pensar que a igreja, que hoje tem um papa (que vai ficar infalível), é mais firme na fé e mais pura na moralidade que a igreja Apostólica, diga-o abertamente ante o Universo, visto como este recinto é um centro do qual as nossas palavras voam de pólo a pólo! Calai-vos? Então continuarei: 
Também nos escritos de São Paulo, de São João, ou de São Tiago, não descubro traço algum do poder papal! São Lucas, o historiador dos trabalhos missionários dos apóstolos, guarda silêncio sobre tal assunto! Isso deve preocupar-vos muito. Não me julgueis um cismático! 

Entrei pela mesma porta que vós outros; o meu título de bispo deu-me direito a comparecer aqui, e a minha consciência, inspirada no verdadeiro cristianismo, me obriga dizer-vos o que julgo ser verdade. 
Penso que, se Pedro fosse vigário de Jesus Cristo, ele não o sabia, pois que nunca procedeu como papa: nem no dia de Pentecoste, quando pregou o seu primeiro sermão, nem no concílio de Jerusalém, presidido por São Tiago, nem na Antioquia, e nem nas Epístolas que dirigiu às igrejas. Será possível que ele fosse papa sem o saber? 
Parece-me escutar de todos os lados: pois são Pedro não esteve em Roma? Não foi crucificado de cabeça para baixo? Não existem os lugares onde ensinou e os altares onde disse missa nessa cidade? 
E eu responderei: só a tradição, veneráveis irmãos, é que nos diz ter São Pedro estado em Roma; e como tradição é tão somente a tradição da sua estada em Roma, é com ela que me provareis o seu episcopado e a sua supremacia? 
Scalígero, um dos mais eruditos historiadores, não vacila em dizer que o episcopado de São Pedro e sua residência em Roma se devem classificar no número das lendas mais ridículas! (Repetidos gritos: Tapai-lhe a boca, fazei-o descer dessa cadeira!) 

Meus veneráveis irmãos, não faço questão de calar-me, como quereis, não será melhor provar todas as coisas como manda o apóstolo, e crer só no que for bom? Lembrai-vos de que temos um grande ditador ante o qual todos nós, mesmo Sua Santidade Pio IX, devemos curvar a cabeça: esse ditador, vós bem o sabeis, é a história! 
Permiti que repita: folheando os sagrados escritos não encontrei o mais leve vestígio do papado ns tempos apostólicos! E, percorrendo os anais da igreja, nos quatro primeiros séculos, o mesmo me sucedeu! 
Confessar-vos-ei que o que encontrei foi o seguinte: Que o grande Santo agostinho, bispo de Hipona, honra e glória do cristianismo e secretário do concílio de Melive, nega a supremacia ao bispo de Roma. Que os bispos de África, no sexto concílio de Cartago, sob a presidência de Aurélio, bispo dessa cidade, admoestavam a Celestino, bispo de Roma, por supor-se superior aos demais bispos, enviando-lhes comissionados e introduzindo o orgulho na igreja. Portanto, o papado não é instituição divina. 

Deveis saber, meus veneráveis irmãos, que os padres do concílio de Calcedônia colocaram os bispos da antiga e nova Roma na mesma categoria dos demais bispos. 
Que aquele sexto concílio de Cartago proibiu o título de “Príncipe dos Bispos”, por não haver soberania entre eles. E que São Gregório I escreveu estas palavras, que muito aproveitam à tese: - Quando um patriarca se intitula “Bispo Universal”, o título de patriarca sofre incontestavelmente descrédito. Quantas desgraças não devemos esperar, se entre os sacerdotes se suscitarem tais ambições? Esse “bispo” será o rei dos orgulhosos! – (Pelágio II, Cett. 13). 
Com tais autoridades e muitas outras que poderia citar-vos, julgo ter provado que os primeiros bispos de Roma não foram reconhecidos como bispos universais ou papas, nos primeiros séculos do cristianismo. E, para mais reforçar meus argumentos, lembrarei aos meus veneráveis irmãos que foi Ósio, bispo de Córdova, quem presidiu ao primeiro concílio de Nicéia, redigindo os seus cânones; e que foi ainda esse bispo que, presidindo ao concílio de Dardica, excluiu o enviado de Júlio, bispo de Roma! 

Mas, da direita me citam estas palavras do Cristo – Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja. Sois portanto chamados para este terreno. 
Julgais, veneráveis irmãos, que a rocha ou pedra sobre que a santa igreja está edificada, é Pedro; mas permiti que eu discorde desse vosso modo de pensar. 
Diz São Cirilo, no seu quarto livro sobre a Trindade: “A rocha ou pedra de que nos fala Mateus, é a fé imutável dos apóstolos.” São Olegário, bispo de Poitiers, em seu segundo livro sobre a Trindade, repete: Que a pedra é a rocha da fé confessada pela boca de São Pedro. E, no seu sexto livro, mais luz nos fornece, dizendo: É sobre esta rocha da confissão da fé que a igreja está edificada. São Jerônimo, no sexto livro sobre São Mateus, é de opinião que Deus fundou a sua igreja sobre a rocha ou pedra que deu o seu nome a Pedro. 
Nas mesmas águas navegfa São Crisóstomo quando, em sua homilia 56 a respeito de São Mateus, escreve: - Sobre esta rocha edificarei a minha igreja: e esta rocha é a confissão de Pedro. E eu vos perguntarei, veneráveis irmãos, qual foi a confissão de Pedro? 

Já que nbão me respondeis, eu vo-la darei: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus.” 
Ambrósio, o santo arcebispo de Milão, São bnasílio de Selêucia, e os padres do concílio de Calcedônia ensinam precisamente a mesma coisa. Entre os doutores da antiguidade cristã, Santo Agostinho ocupa um dos primeiros lugares, pela sua sabedoria e pela sua santidade. Escutai como ele se expressa sobre a primeira epístola de São João: Edificarei a minha igreja sobre esta rocha, significa claramente que é sobre a fé de Pedro. No seu tratado 124, sobre o mesmo São João, encontra-se esta significativa frase: Sobre esta rocha, que acabais de confessar, edificarei a minha igreja; e a rocha era o próprio Cristo, Filho de Deus. 
Tanto esse grande e santo bispo não acreditava que a igreja fosse edificada sobre Pedro, que disse em seu sermão número 13: - Tu és Pedro, e sobre essa rocha ou pedra que me confessaste, dizendo; Tu és o cristo, o Filho do Deus vivo, edificarei a minha igreja, sobre mim mesmo; pois sou o Filho do deus vivo. Edificarei sobre mim mesmo, e não sobre ti. Haverá coisa mais clara e positiva?
 
Assim é que, resumindo, vos direi: 
1. Que Jesus deu aos outros apóstolos o mesmo poder que deu a Pedro. 
2. Que os apóstolos nunca reconheceram em São Pedro a qualidade de vigário do Cristo e infalível doutor da igreja. 
3. Que o mesmo Pedro nunca pensou ser papa, nem fez coisa alguma como papa. 
4. Que os concílios dos quatro primeiros séculos nunca deram nem reconheceram o poder e a jurisdição que os bispos de Roma queriam ter. 
5. Que os Santos Padres, na famosa passagem: - Tu és Pedro e sobre esta pedra (a confissão de Pedro) edificarei a minha igreja – nunca entenderam que a igreja estava edificada sobre Pedro (super petrum), e sim sobre a rocha (super petram), isto é; sobre a confissão da fé do Apóstolo! 

Concluo, pois, com a história, a razão, a lógica, que o bom Jesus não deu supremacia alguma a Pedro, e que os bispos de Roma só se constituíram soeranos da igreja confiscando, um por um, todos os direitos de episcopado! (Vozes de todos os lados! Silêncio, insolente, silêncio! Silêncio!) 
Não sou insolente! Não, mil vezes não! Contestai a história, se ousai faze-lo; mas ficai certos de que não a destruireis! 
Se avancei alguma inverdade, ensinai-me isso com a História, à qual vos prometo fazer a mais honrosa apologia. Mas compreendei que eu não disse tudo quanto quero e posso dizer, ainda que a fogueira me aguardasse lá fora, eu não me calaria! Sede pacientes, como manda Jesus. Não ajunteis a cólera ao orgulho que vos domina! 

Disse Monsenhor Dupanloup, nas suas célebres observações sobre este concílio do Vaticano, e com razão, que, se declaramos infalível a Pio IX, necessariamente precisamos sustentar que infalíveis foram todos os seus antecessores. Porém, veneráveis irmãos, com a História na mão, vos provarei que alguns papas falharam. 
Passo a provar-vos, meus veneráveis irmãos, com próprios livros existentes na biblioteca deste Vaticano, como é que falharam alguns dos papas que nos tem governado: 
O papa Marcelino entrou no templo de Vesta e ofereceu incenso à deusa do paganismo. Foi, portanto, idólatra; ou, pior ainda; foi apóstata! 
Libório consentiu na condenação de Atanásio; depois, passou-se para o arianismo. 
Honório aderiu ao maniqueísmo. 

Gregório I chamava Anticristo ao que se impunha como Bispo Universal; e, entretanto, Bonifácio III conseguiu obter do parricida imperador Focas este tíyulo em 607. 
Pascoal II e Eugênio III autorizavam os duelos, condenados pelo Cristo; enquanto que Júlio II e Pio IV os proibiram. Adriano II, em 872, declarou válido o casamento civil; entretanto, Pio VII, em 1823, condenou-º 
Xisto V publicou uma edição da Bíblia e, com uma, recomendou a sua leitura; e aquele Pio VII excomungou a edição. Clemente XIV aboliu a Companhia de Jesus, permitida por Paulo III; e o mesmo Pio VII a restabeleceu. 
Porém, para que mais provas? Pois o nospo Santo Padre Pio IX não acaba de fazer a mesma coisa quando, na sua bula para os trabalhos deste concílio, dá como revogado tudo quanto se tenha feito em contrário ao que aqui for determinado, ainda mesmo tratando-se de decisões dos seus antecessores? Até isso negareis? 

Nunca eu acabaria, meus veneráveis irmãos, se me propusesse a apresentar-vos todas as contradições dos papas, em seus ensinamentos. Como então se poderá dar-lhes a infalibilidade? Não sabeis que, fazendo infalível Sua Santidade, que presente se acha e me ouve, tereis que negar a sua falibilidade e a dos seus antecessores? 
E vos atreveis a dizer que o Espírito Santo vos revelou que a infalibilidade dos papas data apenas deste ano de 1870? 
Não vos enganeis a vós mesmos: se decretais o dogma da infalibilidade papal, vereis os protestantes, nossos rancorosos adversários, penetrarem por larga brecha com a bravura que lhes dá a História. E que tereis vós a opor-lhes? O silêncio, se não quiserdes desmoralizar-vos. (Gritos: ´R demais; basta!) 

Não griteis, Monsenhores! Temer a História, é confessar-vos derrotados! Ainda que pudésseis fazer correr toda a água do Tigre sobre ela, não apagaríeis nem uma só das suas páginas! Deixai-me falar e serei breve. 
Vergílio comprou o papado de Belisário, tenente do imperador Justiniano. Por isso, foi condenado no segundo concílio de Calcedônia, que estabeleceu este cânone: O bispo que se eleve por dinheiro será degradado. Sem respeito àquele cânone, Eugênio III, seis séculos depois, fez o mesmo que Vergílio, e foi repreendido por São Bernardo, que era a estrela brilhante do seu tempo. 
Depois de conhecer a história do papa Formoso: Estevão XI fez exumar o seu corpo, com as vestes pontificais; mandou cortar-lhe os dedos e o arrojou ao Tibre. Estevão foi envenenado; e tanto Romano como João, seus sucessores, reabilitaram a memória de Formoso. Lede Plotino, lede Barônio, o Cardeal! É dele que me sirvo. 

Barônio chega a dizer que as poderosas cortesãs vendiam, trocavam e até se apoderavam dos bispados; e, horrível é dize-lo, faziam papas aos seus amantes! 
Genebrando sustenta que, durante 150 anos, os papas, em vez de apóstolos foram apóstatas. 
Deveis saber que o papa João Xii foi eleito com a idade de dezoito anos tão-somente, e que o seu antecessor era filho do papa Sérgio com Marózzia. Que Alexandre XI era... nem me atrevo a dizer o que ele era de Lucrecia; e que João, o XXII, negou a imortalidade da alma, sendo deposto pelo concílio de Constança. 

Já nem falo dos cismas que tanto têm desonrado a igreja. Volto, porém, a dizer-vos que, se decretais a infalibilidade do atual bispo de Roma, devereis decretar também a de todos os seus antecessores; mas, atrever-vos-eis a tanto? Sereis capazes de igualar a Deus todos os incestuosos, avaros, homicidas e simoníacos bispos de Roma? (Gritos: Descei da cadeira, descei já; tapemos a boca desse herege). 
Não griteis, meus veneráveis irmãos. Com gritos nunca me convencereis. A História protestará eternamente sobre o monstruoso dogma da infalibilidade papal; e, quando mesmo todos vós o aproveis, faltará um voto, e esse voto é o meu! 

Mas, voltemos à doutrina dos apóstolos: Fora dela só há erros, trevas e falsas tradições. Tomemos a eles e aos profetas pelos nossos únicos mestres, sob a chefia de Jesus. Firmes e imóveis como a rocha, constantes e incorruptíveis nas inspiradas Escrituras, digamos ao mundo: assim como os sábios da Grécia foram vencidos por Paulo, assim a igreja romana será também vencida... (Gritos clamorosos; abaixo o protestante! abaixo o calvinista! Abaixo o traidor da igreja!) 

Os vossos gritos, monsenhores, não me atemorizam, e só vos comprometem. As minhas palavras têm calor, mas a minha cabeça está serena. Não sou de Lutero, nem de Calvino, nem de Paulo, e sim tão-somente do Cristo. (Novos gritos: anátema! Anátema vos lançamos!) 

Anátema! Anátema! Para os que contrariam a doutrina de Jesus! Ficai certos de que os apóstolos, se aqui comparecessem, vos diriam a mesma coisa que acabo de declarar-vos. 
Que lhes diríeis vós, se eles, que pregaram e confirmara. Suas palavras com o seu sangue, lembrando-vos o que escreveram, vos mostrassem o quanto tendes deturpado o evangelho do amado Filho de Deus? Acaso lhes diríeis: preferimos a doutrina dos Loiolas à do Divino Mestre? 

Não! mil vezes não! A não ser que tenhais tapado os ouvidos, fechado os olhos e embotado a vossa inteligência, o que não creio. Oh! Se Deus quer castigar-nos, fazendo cair sua mão pesadamente sobre nós, como fez ao Faraó, não precisa permitir que os soldados de Garibaldi nos expulsem daqui; basta deixar que façais de Pio IX um Deus, como já fizestes uma deusa da Virgem Maria! 
Evitai, sim, evitai, meus veneráveis irmãos, o terrível precipício a cuja borda estais colocados. Salvai a igreja do naufrágio que a ameaça, e busquemos todos, nas Sagradas Escrituras, a regra da fé que devemos crer e professar. Digne-se Deus assistir-me. Tenho concluído! 

Fonte: Lições da História que não podemos esquecer/Livro Babilônia ontem e hoje 
Autor: Abraão de Almeida 
Editora Vida, 1993