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domingo, 25 de dezembro de 2011

Planta usada no combate à diabetes promete avanços na cura do câncer


Planta usada no combate à diabetes promete avanços na cura do câncer

28/10/2003 - Folha de São Paulo
Pesquisadoras da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) identificaram e patentearam uma substância extraída de um arbusto do Sudeste brasileiro que é capaz de matar até as mais resistentes células cancerosas.

Há ainda um caminho de vários anos a percorrer entre o mato e a farmácia, mas Cerli Rocha Gattass e suas colegas do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, na UFRJ, dizem estar esperançosas quanto ao potencial do ácido pomólico. O ácido é retirado das folhas do abajeru (para os cientistas, Chrysobalanus icaco).

A notícia da descoberta saiu na quinta-feira no jornal "O Globo".
"Até agora, a eficiência [da substância] tem sido grande", diz Gattass, 59. Tanto é que a UFRJ obteve uma patente preventiva da substância, com duração de um ano, em 122 países.

"Depois desse prazo, podemos escolher em quais países manter a patente", diz a biofísica. As cientistas também já reservaram seus direitos de propriedade intelectual no Brasil, registrando a descoberta no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).

Arsenal biológico

Segundo a cientista, a planta, comum na América e na África Ocidental, já tinha um uso popular no tratamento do diabetes. Raquel de Oliveira Castilho, então estudante de doutorado no NPPN (Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais da UFRJ), passou a estudar as propriedades dos extratos e das moléculas do abajeru.

Com ajuda de Castilho, hoje na Universidade Católica Dom Bosco, em Campo Grande (MS), Gattass notou que a planta tinha um verdadeiro arsenal biológico: suas moléculas tiveram efeito positivo contra diabetes e também contra bactérias, contra os parasitas causadores da leishmaniose e da doença de Chagas e, finalmente, contra o câncer.

A molécula que apresentou a ação anticancerígena, ácido pomólico, era desconhecida, conta Gattass. "Só havia seis trabalhos na literatura [científica], que apenas diziam que ele estava presente na planta", afirma. Com a ajuda da biomédica Vivian Rumjanek, também da UFRJ, a pesquisadora decidiu submeter o ácido a uma prova de fogo: o contato com linhagens de células de câncer resistentes a praticamente todo tipo de quimioterapia.

No caso, os vilões celulares causam a chamada leucemia mielóide, um câncer das células sanguíneas. "Elas são selecionadas em laboratório para ficarem cada vez mais resistentes aos medicamentos, como ocorre no organismo de um paciente de verdade", explica Rumjanek, 56.

Por razões ainda pouco conhecidas pelos cientistas, esse tipo de célula tem, na sua membrana, proteínas que funcionam como uma bomba, ejetando continuamente qualquer substância nociva para fora da célula. "Acontece que o ácido pomólico matava a linhagem toda e ia muito bem, obrigado", brinca Gattass. O mesmo aconteceu quando a substância foi posta à prova contra cânceres de pulmão, mama, laringe, intestino e cérebro.

Entre 70% e 90% das células cancerosas eram eliminadas. Como o ácido pomólico faz isso ainda não está claro. Estudos da estudante de doutorado Janaina Fernandes, orientada por Gattass, sugerem que a molécula gera uma pane nas mitocôndrias (usinas de energia das células). 

Segundo a biofísica, os efeitos do ácido em células normais são pequenos.

Preservação

De fato, parece o remédio ideal, mas há vários motivos para não sair por aí depenando os arbustos de C. icaco. A primeira é que são necessários testes em animais e, posteriormente, em humanos, para comprovar a eficácia da molécula --um processo que ainda deve levar vários anos.

A segunda, explica Gattass, é que não adianta usar as folhas da planta para fazer chá: o ácido pomólico não aparece em infusões desse tipo. Os cientistas só podem isolá-lo num processo complicado, secando as folhas, moendo-as e misturando o pó a metanol, que depois é evaporado. A intenção do grupo é aumentar a eficiência do processo e também encontrar formas de sintetizar a substância.

De qualquer maneira, o potencial revelado pelo arbusto, afirma Gattass, é só uma amostra do que a biodiversidade brasileira, cujas espécies ainda são em grande parte desconhecidas, é capaz de oferecer. "Isso mostra o celeiro que o Brasil é", afirma

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